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QUEREMOS SABER – GILBERTO GIL

Queremos saber,
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
e suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes dos sertões
Queremos saber,
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato
Retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do senhor
Queremos saber,
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever
Qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber
Queremos saber, todos queremos saber

JUSTIÇA

Antígona (filha de Jocasta e Édipo) foi severamente punida porque errou “aos olhos de algumas pessoas”. Mas, se errou, seu errro foi agir com boa-fé, com amor, conforme seus príncípios e valores éticos, por ter bom caráter, virtudes, coragem, bondade, por acreditar no outro ser também como puro, por desafiar a crueldade e a tirania de seu tio Creonte. E quem age com má-fé, usa e abusa da pureza de outro ser humano, fere com crueldade, por capricho, por prazer em machucar o outro, engana, mente, age calculadamente, meticulosamente, ardilosamente, maquiavelicamente? Quem consegue sangrar o outro sem usar nenhum objeto cortante, por pura maldade, merece qual punição?

Bom Conselho – …

Bom Conselho – Chico Buarque
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
(…)
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
(…)
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

As voltas que a vida dá

Roda Viva – Chico Buarque

Tem dias que a gente se  sente

Como quem partiu ou morreu

A gente  estancou de repente
Ou foi o mundo então que  cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso  destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E  carrega o destino pra lá
Roda mundo,  roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo  rodou num instante
Nas voltas do meu coração

(…)

COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado